sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Rebeldia incompetente?

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O materialismo significa que a realidade que vejo nunca é inteira – não porque grande parte dela me escapa, mas porque ela contém uma mancha, um ponto obscuro que indica minha inclusão nela.” (Zizek, A Visão em Paralaxe)

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Ontem uma advogada de 28 anos, foi detida na cidade de Curitiba por supostamente ter incorrido no crime de desobediência, previsto no art. 330 do Código Penal brasileiro. Fora aberto um Inquérito Policial, e nesse momento sua condição perante o sistema de controle penal é de indiciada.

Na noite de ontem, 05/11/09, entre 20 h e 20 h 30, A.P, da sacada de sua casa, observava uma abordagem policial em cinco jovens. Todos estavam com as mãos na cabeça. Dois PM´s fardados e armados procediam a averiguação.

Um dos PM´s, sem qualquer razão aparente, desferiu dois socos na altura do rim de um dos jovens, que não havia oferecido qualquer resistência à abordagem. Indignada, A.P gritou de sua sacada: "se bater no guri, vou denunciar." O agressor replicou: "porte de maconha é crime!", ao que a advogada treplicou: "agredir um cidadão indefeso também."

Ainda tomada pela indignação pela brutalidade dos PM´s que intimidavam os abordados, A.P foi observar de perto o procedimento, esclarecendo que era advogada e que se necessário faria o acompanhamento dos jovens à delegacia, por temer por sua integridade.

O jovem agredido fora detido, por porte de maconha para uso pessoal (quantia que fora exibida pelos PM´s à advogada) e encaminhado com violência desnecessária ao camburão da viatura policial. A.P pediu o telefone de um dos familiares ou amigos do detido para entrar em contato, ao que um dos PM´s determinou que entrasse em sua casa imediatamente, pois estava "obstruindo o serviço da polícia."

A.P negou-se, e diante dessa negativa ouviu voz de prisão pelo crime de desobediência.

Detida no Oitavo Distrito Policial daquela cidade, aguardou cerca de três horas para ser ouvida pelo investigador plantonista.

Munido do Boletim de Ocorrência, o investigador informou à advogada detida que:

1) O jovem detido em realidade figurava na condição de testemunha dos PM´s;

2) A alegada testemunha negara qualquer agressão;

3) Não houve apreensão de qualquer droga.

4) A desobediente deveria comparecer à audiência no dia 03/02/2010 para responder pelo seu crime.


Be continued.





7 comentários:

  1. eu queria ter a sua coragem. tô contigo. abs

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  2. Putz, que situação revoltante!

    Infelizmente vivemos nessa sociedade em que a polícia é parabenizada por encher o pessoal de porrada, desde que seja bandido (como se praticamente toda classe média também não fosse).

    Mas me parece estúpida a mentira que escolheram: se os jovens detidos são testemunhas, você desobedeceu por quais motivos? POR QUE DEUS QUIS?

    Espero que você tenha gravado a situação com seu celular. Ferrar esses policiais de vez seria algo muito divertido.

    Boa sorte.

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  3. é. polícia abusa muitas vezes. não vou dizer que to chocada pq é comum. chamou a brilhante OAB?

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  4. Sem palavras para descrever o nojo que fiquei quando passei por uma situação parecida. Eu e meu namorado fomos abordados porque o farol da moto (de trás) tava queimado e óbviamente não vimos. Fomos tratados como marginais! É humilhante ter que provar que tu é trabalhador p/ ser tratado com o mínimo de respeito! Indignada na época minha alternativa foi escrever: http://vanessasilveira.blogspot.com/2009/04/encosta-moto-ai.html

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  5. Pois é, parece q a polícia nao anda tendo a devida paciência e o respeito às pessoas. Já abordam a gente como se fossemos todos uns porcarias, marginais por natureza. Ainda bem q nao sao todos assim, mas q isso revolta, ahhh, revolta. O pior é q mesmo qdo tu prova q é trabalhador, ainda assim, o "respeito" continua o mesmo...eta justiça brasileira. Mas q tu foi peituda, isso foi, adorei!!! Quero só ver o papo na audiencia... tu conta pra gente depois?

    Bom, te conheci no twitter, nem sabia q tu tinha blog, mas agora acompanharei de perto...rs.

    Bjos e boa sorte!!!

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  6. "Ferrar esses policiais de vez seria algo muito divertido." E ferrar os guris também, né! Como não houve agressão?
    Vai ser muito difícil endireitar as coisas enquanto apenas um minoria se dispuser a fazer algo, em vez de prezar pelo egoísmo e pelo comodismo. A omissão também é uma forma de nos corrompermos.

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  7. Não sei se dou risadas ou se choro...
    é deprimente ouvir um relato como este, ao mesmo tempo que uma completa palhaçada. Não preciso lembrá-la da completa falta de provas e da exigência de que haja uma hordem legal para ser desobedecida e que em caso de ordem manifestamente ilegal a conduta é atípíca...sem falar na excludente de ilicitude em defesa das "testemunhas" e o exercício da profissão...
    Isso me lembra uma caso, aqui de Belém, onde um juiz deu voz de prisão a um advogado por estar supostamente o desacatando, pois considerou que ele não o haia tratado com o devido respeito. Ato contínuo o advogado deu voz de prisão ao juiz por abuso de autoridade! Fim da história, como juiz não é autoridade policial, logo não tem o dever legal de prisão em flagrante, td ficou por isso msm, sem as devidas conduções ao flagrante...um terceiro, amigo em comum, apasiguou o caso.
    Mesmo que essa situação tenha lhe causado um constrangimento enorme, eu a parabenizo pela coragem e lhe dou total apoio.

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